Durante meus mais de quinze anos de prática como ortopedista especializado em joelho, uma das perguntas que mais escuto no consultório é: “Doutor Ulbiramar, água no joelho é perigoso?”
Esta dúvida é perfeitamente compreensível, pois a água no joelho pode gerar muita ansiedade nos pacientes.
Como profissional que acompanha centenas de casos anualmente, posso afirmar que, mesmo quando não é uma emergência médica, essa condição merece atenção e cuidados específicos.
O meu objetivo com este conteúdo é explicar de forma clara se realmente água no joelho é perigoso, mostrar os riscos reais, opções de tratamento e medidas de prevenção.
O Que É Água no Joelho: Uma Visão Médica
Em minha experiência clínica, explico aos meus pacientes que a “água no joelho” é, na verdade, um acúmulo anormal de líquido sinovial na articulação.
Esse líquido, que normalmente existe em pequenas quantidades (entre 2 a 3,5 ml), pode aumentar drasticamente para 20, 80 ou até 100 ml quando há inflamação.
A membrana sinovial, tecido que reveste internamente nossa articulação, produz esse líquido com função lubrificante. Quando essa membrana se inflama, processo chamado sinovite, ocorre o derrame articular que tanto preocupa quem chega ao meu consultório.
Água no Joelho é Perigoso? Entenda os Riscos Reais
Com base na minha prática clínica e nas evidências científicas, posso afirmar com clareza que água no joelho é perigoso quando não tratada corretamente.
O excesso de líquido sinovial pode agredir a cartilagem articular, levando à sua degradação. Esse processo resulta em dor intensa e dificuldade para caminhar.
Existem casos mais graves, como sangramento interno (hemartrose) ou infecção na articulação (artrite séptica), que exigem atenção imediata.
A artrite séptica, por exemplo, pode destruir a cartilagem de forma rápida e causar sequelas se não for tratada com urgência.
Principais Causas
As causas mais comuns para o surgimento da água no joelho são:
- Traumas diretos: pancadas, quedas e lesões esportivas são frequentes nos casos que acompanho. Esses traumas podem comprometer ligamentos, meniscos e outras estruturas do joelho.
- Doenças degenerativas: a osteoartrite tem sido cada vez mais comum no consultório. No Brasil, estima-se que 12 milhões de pessoas sofram com essa doença, o que representa cerca de 6,3% da população adulta.
- Condições inflamatórias: doenças como artrite reumatoide, gota e outras patologias autoimunes.
Sintomas Que Não Devem Ser Ignorados
Sempre oriento meus pacientes a ficarem atentos aos seguintes sintomas:
- Inchaço visível e ao toque
- Dor que pode variar de leve a intensa
- Dificuldade para dobrar ou esticar completamente o joelho
- Sensação de fraqueza ao apoiar o peso do corpo na perna afetada
- Calor local e vermelhidão
- Rigidez, especialmente ao acordar
Quando o inchaço permanece por mais de três dias, está associado a febre ou não melhora com analgésicos, é hora de procurar atendimento médico.
Dados Epidemiológicos Relevantes
No Brasil, distúrbios articulares são uma das principais causas de afastamento do trabalho. A sinovite e tenossinovite representam uma média de 10,9 casos para cada 10.000 vínculos empregatícios, com afastamentos que duram, em média, 56 dias.
Esses dados correspondem a 2,6% de todos os auxílios-doença e a 11,7% dos casos relacionados a distúrbios osteomusculares.
No mundo, a situação é semelhante. Entre 1990 e 2019, os casos de osteoartrite cresceram 113,25%, saltando de 247,5 milhões para quase 528 milhões de pessoas.
Quando a Situação Exige Intervenção Médica
Como sempre reforço em conversas com meus pacientes, o diagnóstico precoce é fundamental.
No consultório, costumo realizar exame físico detalhado, escutar com atenção o relato do paciente e, quando necessário, peço exames como ultrassonografia ou ressonância magnética.
Em alguns casos, faço a punção articular – um procedimento ambulatorial simples que realizo com anestesia local, que serve tanto para aliviar os sintomas quanto para colher amostras do líquido para análise em laboratório.
Opções de Tratamento
O tratamento deve ser sempre personalizado, mas costumo seguir alguns caminhos:
- Tratamento conservador: repouso, aplicação de gelo, medicamentos anti-inflamatórios e fisioterapia são os primeiros passos.
- Medicação específica: prescrevo conforme a causa do derrame, ajustando conforme o perfil de cada paciente.
- Procedimentos invasivos: quando necessário, realizo artroscopia para remover o tecido inflamado. É um procedimento minimamente invasivo com recuperação rápida.
Prevenção: Orientações Práticas
Com base em minha experiência clínica, recomendo a todos os meus pacientes que:
- Fortaleçam a musculatura com ajuda profissional
- Mantenham o peso corporal dentro de uma faixa saudável
- Realizem aquecimento antes de atividades físicas
- Evitem sobrecarga repetitiva nos joelhos
Conclusão
Voltando à pergunta inicial: água no joelho é perigoso quando deixado de lado, mas com o tratamento correto, é totalmente possível recuperar a qualidade de vida.
A boa notícia é que, com diagnóstico precoce e um plano de tratamento adequado, o prognóstico é bastante positivo.
Sempre digo no consultório: cada joelho tem sua história, e merece cuidado exclusivo. A água no joelho pode assustar a princípio, mas não precisa ser motivo de pânico.
Caso você tenha ficado com alguma dúvida, agende uma consulta para uma avaliação mais detalhada, e quanto antes iniciar o tratamento, melhor!
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