Uma das perguntas mais frequentes que recebo em meu consultório é justamente esta: “Doutor Ulbiramar, quando rompe o ligamento do joelho tem que operar?”

É uma dúvida legítima e compreensível, afinal, ninguém quer passar por uma cirurgia desnecessariamente.

Em minha experiência como ortopedista especialista em cirurgias minimamente invasivas de joelho, posso afirmar que a resposta não é sempre sim ou não, depende de uma avaliação cuidadosa de cada caso individual.

O ligamento cruzado anterior (LCA) é uma estrutura fundamental para a estabilidade do joelho, funcionando como o principal estabilizador anterior desta articulação. 

Quando ocorre sua ruptura, principalmente em atividades esportivas, a decisão de operar ou não deve considerar diversos fatores que vão muito além da simples presença da lesão.

Neste artigo, com a colaboração da minha equipe, irei explicar em detalhes quando a cirurgia é indicada em caso de rompimento de ligamento do joelho.

Entendendo a epidemiologia das lesões do LCA

Para compreender melhor quando devemos indicar a cirurgia, é importante conhecer os dados epidemiológicos.

No Brasil, estudos mostram que cerca de 14% dos homens sofrem lesão do LCA, contra apenas 3% das mulheres. 

No entanto, quando analisamos especificamente o contexto esportivo, as mulheres apresentam maior incidência, por exemplo, no futebol brasileiro, a taxa é de 0,871 lesões por 1000 horas de jogo para mulheres, comparado a 0,507 para homens.

Os números são impressionantes: apenas no Nordeste brasileiro, entre 2013 e 2022, foram registradas 10.020 internações para reconstrução do LCA.

No futebol profissional brasileiro, a temporada de 2024 registrou 30 casos de ruptura do LCA – 15 na Série A e 15 na Série B, demonstrando a magnitude do problema e a importância de uma abordagem criteriosa.

Quando Rompe o Ligamento do Joelho Tem Que Operar?

Em minha prática clínica, utilizo critérios bem estabelecidos para determinar quando a cirurgia é indispensável.

A decisão de operar baseia-se principalmente na presença de instabilidade funcional, que se manifesta através da queixa de falseio do paciente e da presença da manobra de pivot-shift positiva no exame físico,

Para atletas e pessoas com alta demanda funcional, a cirurgia costuma ser a melhor opção. Das lesões de joelho que necessitam cirurgia no contexto esportivo, aproximadamente 60% são do LCA. 

Isso ocorre porque a instabilidade gerada pela ruptura do ligamento pode levar a lesões secundárias nos meniscos e cartilagem, comprometendo ainda mais a articulação.

Meus pacientes atletas frequentemente me perguntam sobre o retorno ao esporte. Posso tranquilizá-los: com a técnica adequada e reabilitação correta, o retorno é possível e seguro.

A cirurgia artroscópica, que é minimamente invasiva, permite não apenas tratar a lesão com precisão, mas também acelerar o processo de recuperação.

Quando o tratamento conservador pode ser uma alternativa

Nem sempre operar é a única opção, e o tratamento conservador pode ser indicado em situações específicas:

  • Lesão isolada do LCA com joelho estável.
  • Pacientes sedentários ou com baixa demanda funcional.
  • Alguns casos de atletas que mantêm estabilidade após reabilitação adequada.

Estudos mostram que indivíduos que completam com sucesso um programa de reabilitação específico podem retornar às atividades esportivas em 63% a 79% dos casos, sem episódios subsequentes de instabilidade. 

Contudo, é importante ressaltar que mesmo estes “copers” podem apresentar novos episódios de subluxação em até 37% dos casos.

A cirurgia artroscópica: técnica moderna e eficaz

Quando a decisão é operar, utilizo exclusivamente a técnica artroscópica, um procedimento minimamente invasivo que revolucionou o tratamento das lesões do LCA.

Esta abordagem oferece inúmeras vantagens: menor dor pós-operatória, cicatrização mais rápida, menor risco de infecção e recuperação acelerada.

Em meus procedimentos, substituo o ligamento rompido por um enxerto, geralmente retirado dos tendões isquiotibiais ou do tendão patelar do próprio paciente. A cirurgia dura aproximadamente 1 a 2 horas, e o paciente pode retornar para casa no mesmo dia.

O processo de recuperação: paciência e dedicação

A recuperação completa após a cirurgia de reconstrução do LCA demora entre 9 e 12 meses. Este tempo pode parecer longo, mas é necessário para a completa cicatrização e ligamentização do enxerto.

Explico sempre aos meus pacientes que este processo não pode ser acelerado – a biologia tem seu próprio ritmo.

A reabilitação é dividida em fases específicas:

  1. Nas primeiras 1-2 semanas, focamos no controle da dor e redução do inchaço.
  2. Entre 3-6 semanas, trabalhamos a restauração da amplitude de movimento e fortalecimento inicial.
  3. A partir da 7ª semana, intensificamos o fortalecimento muscular progressivo.

Estudos brasileiros demonstram bons e excelentes resultados em 91,4% dos casos quando utilizamos autoenxerto dos tendões flexores da coxa. 

Estes números refletem não só a técnica cirúrgica, mas também a importância da reabilitação adequada.

Fatores que influenciam a decisão

Em minha avaliação, considero sempre o perfil individual de cada paciente. A idade, nível de atividade, expectativas funcionais e presença de lesões associadas são fundamentais na tomada de decisão.

O LCA é conhecido como “o guardião do menisco”, e sua ausência pode levar a degeneração progressiva da articulação.

Para pacientes jovens e ativos, mesmo uma lesão parcial pode necessitar intervenção cirúrgica, especialmente se houver instabilidade funcional. Já para pacientes mais velhos e sedentários, o tratamento conservador pode ser suficiente.

Prevenção: a melhor estratégia

Embora nem todas as lesões possam ser prevenidas, alguns cuidados são essenciais:

  • Aquecimento adequado.
  • Fortalecimento muscular equilibrado.
  • Técnica correta nos movimentos esportivos.

Conclusão

A pergunta “quando rompe o ligamento do joelho tem que operar” não tem uma resposta única. Em minha experiência, a decisão deve sempre ser individualizada, considerando o perfil do paciente, suas expectativas e demandas funcionais.

O que posso garantir é que, quando bem indicada, a cirurgia artroscópica oferece excelentes resultados, permitindo retorno seguro às atividades desejadas.

A chave do sucesso está na avaliação criteriosa, técnica cirúrgica adequada e, principalmente, no comprometimento do paciente com o processo de reabilitação.

Lembro sempre aos meus pacientes: operar é apenas o primeiro passo, a recuperação completa depende de dedicação e paciência.

Está com dor no joelho ou suspeita de lesão ligamentar? Agende sua consulta e tenha uma avaliação especializada.

Como especialista em cirurgias minimamente invasivas de joelho, posso ajudá-lo a encontrar o melhor tratamento para seu caso específico. Entre em contato e cuide da sua saúde articular!

Dr. Ulbiramar Correia

[CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240]. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia).