Ao longo de meus anos como ortopedista especializado em cirurgias minimamente invasivas do joelho em Goiânia, uma das perguntas mais frequentes que recebo no consultório é se a condropatia patelar grau 4 tem cura.

Esta condição, que afeta a cartilagem da patela (rótula), causa dor significativa e limitações funcionais para muitos dos meus pacientes.

Quando chegamos ao grau 4, estamos falando do estágio mais avançado da doença, caracterizado pelo desgaste completo da cartilagem da patela.

Vou compartilhar com você o que a ciência atual nos mostra e o que tenho observado em minha prática clínica.

O que é a condropatia patelar e seus graus

A condropatia patelar refere-se ao amolecimento e degeneração da cartilagem na parte posterior da patela (rótula).

Esta cartilagem é fundamental, pois funciona como um amortecedor que protege o osso durante os movimentos do joelho.

Em minha experiência clínica, explico aos pacientes que existem quatro graus de classificação da condição:

  • Grau 1: Amolecimento leve da cartilagem.
  • Grau 2: Fibrilação superficial (pequenas fissuras) da cartilagem.
  • Grau 3: Fibrilação profunda, com áreas de exposição óssea parcial.
  • Grau 4: Erosão completa da cartilagem com exposição do osso subcondral.

O grau 4 representa o estágio mais avançado, onde praticamente toda a cartilagem se desgastou, deixando o osso exposto.

Esta condição gera dor significativa e limitações funcionais importantes para quem sofre dela.

Principais causas e fatores de risco

Diversos fatores que contribuem para o desenvolvimento da condropatia patelar severa. Entre os principais estão:

  • Traumatismos repetitivos no joelho, especialmente em atletas.
  • Desalinhamento patelar (patela mal posicionada).
  • Instabilidade da articulação do joelho.
  • Fatores genéticos relacionados à qualidade da cartilagem.
  • Sobrepeso e obesidade, que aumentam a pressão sobre a articulação.
  • Envelhecimento natural dos tecidos.
  • Doenças articulares como a artrite reumatoide.

Em meu consultório, observo que pacientes com histórico de traumatismos esportivos e aqueles com alterações biomecânicas do joelho tendem a desenvolver a condição mais precocemente.

Já expliquei para centenas de pacientes que reconhecer estes fatores é o primeiro passo para um tratamento eficaz.

Sintomas e impactos na qualidade de vida

Pacientes com condropatia patelar grau 4 geralmente relatam:

  • Dor intensa ao subir e descer escadas.
  • Sensação de atrito ou crepitação no joelho.
  • Dificuldade para permanecer sentado por longos períodos.
  • Falseios e instabilidade articular.
  • Episódios de derrame articular (acúmulo de líquido no joelho).
  • Limitação progressiva nas atividades diárias.

Estes sintomas impactam significativamente a qualidade de vida. Muitos dos meus pacientes chegam desesperançosos, após terem passado por diversos tratamentos sem resultados satisfatórios.

É neste momento que discutimos honestamente sobre as possibilidades terapêuticas.

Condropatia patelar grau 4 tem cura?

Esta é a pergunta central que motiva muitos pacientes a me procurarem. Preciso ser franco: a condropatia patelar grau 4 não tem cura definitiva no sentido de regeneração completa da cartilagem perdida.

A cartilagem articular tem capacidade limitada de regeneração, especialmente quando o dano é extenso como no grau 4.

Entretanto, tenho visto resultados muito positivos com abordagens terapêuticas modernas que, embora não “curem” a condição, podem proporcionar alívio significativo dos sintomas e melhora da função articular.

O objetivo do tratamento é controlar a dor, melhorar a função do joelho e retardar a progressão da doença.

Sempre explico aos meus pacientes que mesmo não havendo uma cura definitiva, existem tratamentos eficazes que podem permitir uma vida com qualidade e, em muitos casos, com retorno às atividades desejadas.

Tratamentos conservadores

Antes de considerar intervenções cirúrgicas, geralmente indico uma abordagem conservadora para meus pacientes com condropatia patelar grau 4:

  • Fisioterapia especializada: Fortalecimento dos músculos estabilizadores do joelho, especialmente o quadríceps e os músculos mediais, é fundamental para a estabilização da patela e alívio dos sintomas. Tenho parcerias com excelentes fisioterapeutas que desenvolvem protocolos específicos para estes casos.
  • Controle de peso: Para pacientes com sobrepeso, a perda de peso pode reduzir significativamente a pressão sobre a articulação patelofemoral. Cada quilograma perdido diminui em aproximadamente 4 kg a pressão sobre o joelho durante a caminhada.
  • Medicação para controle da dor: Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e analgésicos podem ser prescritos para o controle da dor e inflamação, sempre com acompanhamento médico devido aos potenciais efeitos colaterais.
  • Suplementação: Suplementos como glucosamina e condroitina podem ser prescritos, que embora tenham evidências científicas mistas, apresentam bons resultados em alguns dos meus pacientes para o alívio dos sintomas.
  • Viscossuplementação: A injeção de ácido hialurônico no joelho pode proporcionar lubrificação adicional e alívio da dor em casos selecionados. Aproximadamente 60% dos pacientes relatam melhora significativa após este procedimento.
  • Terapia com Plasma Rico em Plaquetas (PRP): Resultados promissores têm sido observados com esta terapia em casos específicos, onde utilizamos as plaquetas do próprio paciente para estimular a cicatrização e reduzir a inflamação.

Abordagens cirúrgicas quando necessárias

Quando os tratamentos conservadores não proporcionam resultados satisfatórios, opções cirúrgicas são discutidas com o paciente:

  • Artroscopia com desbridamento: Através de pequenos cortes, fragmentos soltos de cartilagem são removidos e é feita a regularização das superfícies articulares. Este procedimento não restaura a cartilagem, mas pode aliviar a dor por eliminar fontes de irritação mecânica.
  • Estimulação da medula óssea: Técnicas como microfratura permitem que células estaminais da medula óssea cheguem à superfície articular, formando um tecido fibrocartilaginoso que, embora não seja idêntico à cartilagem original, pode melhorar os sintomas.
  • Transplante de condrócitos: Em pacientes jovens e selecionados, pode-se considerar o transplante de células de cartilagem cultivadas em laboratório. Tenho acompanhado o desenvolvimento desta técnica com grande interesse, pois representa uma das melhores esperanças para lesões focais graves.
  • Realinhamento patelar: Para pacientes com mal alinhamento significativo da patela, procedimentos que alterem a biomecânica do joelho podem reduzir a pressão sobre a área afetada.
  • Prótese parcial ou total do joelho: Em casos de dor intratável com comprometimento significativo da qualidade de vida, especialmente em pacientes mais idosos, a substituição articular pode ser uma opção definitiva. Tenho pacientes que recuperaram completamente sua mobilidade e qualidade de vida após este procedimento.

Perspectivas futuras e novas tecnologias

A medicina esportiva e a ortopedia avançam rapidamente.

Tenho acompanhado com entusiasmo o desenvolvimento de novas terapias biológicas, como scaffolds (estruturas tridimensionais que servem de suporte para crescimento celular) combinados com células-tronco, que podem representar o futuro do tratamento da condropatia patelar avançada.

Participo regularmente de congressos internacionais onde estas tecnologias são discutidas, e acredito que nas próximas décadas poderemos ter abordagens ainda mais eficazes para regeneração cartilaginosa, aproximando-nos do que poderíamos chamar de “cura”.

Conclusão

A condropatia patelar grau 4 representa um desafio terapêutico significativo.

Embora atualmente não possamos falar em cura definitiva, as opções de tratamento são muitas e com potencial de proporcionar melhora substancial da qualidade de vida.

Minha mensagem para os pacientes com esta condição é que, com acompanhamento ortopédico adequado, adesão ao tratamento proposto e escolha individualizada das intervenções, é possível conviver bem com esta condição e, em muitos casos, retomar atividades que pareciam impossíveis.

Como especialista que dedica sua vida profissional a cuidar de problemas do joelho, acredito que o futuro trará opções ainda mais promissoras para quem sofre com a condropatia patelar avançada.

Até lá, continuo ajudando meus pacientes a encontrarem o melhor caminho possível para suas necessidades individuais!

Dr. Ulbiramar Correia

[CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240]. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia).