Ao longo de meus anos de prática clínica como ortopedista especialista em cirurgias minimamente invasivas no joelho em Goiânia, tenho observado um número crescente de pacientes diagnosticados com condropatia patelar grau 3.

Esta condição, caracterizada por um desgaste significativo da cartilagem que reveste a patela (rótula), representa um desafio terapêutico importante, pois já indica um comprometimento avançado da articulação.

Quando identificada e tratada precocemente, a condropatia patelar grau 3 pode ser gerenciada de maneira eficaz, evitando a progressão para estágios mais graves e preservando a funcionalidade do joelho por muitos anos.

Entenda a Condropatia Patelar

A condropatia patelar é uma condição caracterizada pelo amolecimento anormal da cartilagem articular da patela. Esta cartilagem funciona como um amortecedor natural que permite o deslizamento suave da patela sobre o fêmur durante os movimentos do joelho.

Quando essa cartilagem começa a se deteriorar, o paciente pode desenvolver uma série de sintomas desconfortáveis que afetam significativamente sua qualidade de vida.

Esta condição pode ser classificada em quatro graus distintos, dependendo da gravidade do comprometimento cartilaginoso:

  • Grau 1: Apresenta apenas um amolecimento da cartilagem, sem fissuras visíveis.
  • Grau 2: Surgem fissuras superficiais que atingem menos de 50% da espessura da cartilagem.
  • Grau 3: Caracteriza-se por fissuras profundas que atingem mais de 50% da espessura da cartilagem.
  • Grau 4: Apresenta fissuras que atravessam toda a espessura da cartilagem, expondo o osso subcondral.

Condropatia Patelar Grau 3: Características Específicas

A condropatia patelar grau 3 representa um estágio preocupante da doença, onde as fissuras na cartilagem já atingem mais de 50% de sua espessura.

Este é um ponto crítico na evolução da doença, pois indica um comprometimento substancial da integridade cartilaginosa, mas ainda existe potencial para tratamentos que podem evitar a progressão para o grau 4, que é o mais grave.

Quando observo este nível de comprometimento nos exames de imagem de meus pacientes, sei que estamos diante de um caso que demanda intervenção mais assertiva.

As rachaduras profundas na cartilagem neste estágio frequentemente resultam em sintomas mais intensos e persistentes, que tendem a limitar significativamente as atividades cotidianas do paciente.

Sintomas

Os pacientes que chegam ao meu consultório com condropatia patelar grau 3 geralmente relatam um conjunto de sintomas bastante específicos, sendo os mais comuns:

  • Dor acentuada na parte anterior do joelho, especialmente ao realizar esforços físicos ou após permanecer longos períodos sentado.
  • Dificuldade significativa para subir e descer escadas, que muitas vezes é o primeiro sintoma que leva o paciente a buscar ajuda médica.
  • Crepitações ou estalos audíveis durante os movimentos do joelho.
  • Sensação de instabilidade articular, como se o joelho fosse “falhar” durante atividades de carga.
  • Aumento da sensibilidade na articulação, particularmente em dias frios.
  • Inchaço articular recorrente, conhecido tecnicamente como derrame articular.

Muitos pacientes com condropatia grau 3 descrevem uma dor mais intensa ao ajoelhar-se, ao usar calçados de salto alto ou mesmo ao permanecer em pé por períodos prolongados, o que reflete o maior comprometimento da cartilagem neste estágio da doença.

Causas e Fatores de Risco

Diversos fatores predispõem ao desenvolvimento da condropatia patelar grau 3. A compreensão dessas causas é fundamental para um tratamento eficaz e para a prevenção de recidivas.

A sobrecarga mecânica na articulação patelofemoral é um dos principais mecanismos de lesão, que pode ser resultado de diversos fatores:

  • Fortalecimento inadequado da musculatura dos membros inferiores, quadris e tronco, algo que observo com frequência em pacientes sedentários.
  • Alterações anatômicas predisponentes, como joelho valgo, patela alta ou tróclea femoral rasa.
  • Padrões de movimento prejudiciais, como o valgo dinâmico (tendência de o joelho “cair” para dentro durante atividades de impacto).
  • Intensificação exagerada do volume de treino em atletas.
  • Excesso de peso, que aumenta significativamente a carga sobre a articulação.
  • Realização repetitiva de movimentos que sobrecarregam a articulação patelofemoral.

Estudos apontam que as mulheres apresentam maior incidência desta condição devido a fatores anatômicos, hormonais e até por alguns hábitos diários, como o uso frequente de saltos altos.

Diagnóstico

O diagnóstico correto é fundamental para o tratamento adequado da condropatia patelar grau 3.

O médico realiza uma avaliação clínica detalhada, que inclui o histórico médico completo e um exame físico minucioso da articulação.

Durante o exame físico, manobras específicas são realizadas para avaliar a mobilidade patelar e reproduzir os sintomas do paciente.

Para confirmação diagnóstica e estadiamento preciso da lesão, exames são solicitados:

  • Radiografias convencionais, que são úteis para avaliar o alinhamento e formato do joelho.
  • Ressonância magnética, que é o exame padrão-ouro para avaliação das lesões de cartilagem, permitindo determinar o tamanho e a profundidade do comprometimento cartilaginoso.

Em alguns casos selecionados, quando há dúvidas diagnósticas ou necessidade de intervenção, a artroscopia diagnóstica pode ser considerada, pois permite a visualização direta da cartilagem e a avaliação precisa de seu comprometimento.

Abordagens Terapêuticas

O tratamento da condropatia patelar grau 3 deve ser individualizado, considerando a gravidade dos sintomas, o nível de comprometimento funcional e as expectativas do paciente.

Na maioria das vezes, inicia-se com uma abordagem conservadora, progredindo para métodos mais invasivos apenas quando necessário.

Tratamento Conservador

Para muitos pacientes com condropatia grau 3, o tratamento conservador pode ser bastante eficaz e inclui:

  • Fisioterapia intensiva focada no fortalecimento da musculatura do quadríceps, isquiotibiais e quadril, essencial para descarregar a articulação patelofemoral.
  • Medicações analgésicas e anti-inflamatórias para controle dos sintomas agudos.
  • Modificação das atividades físicas, com redução temporária daquelas que geram maior impacto.
  • Controle de peso em pacientes com sobrepeso ou obesidade.
  • Uso de medicações condroprotetoras, que podem auxiliar na nutrição e proteção da cartilagem remanescente.

Em casos selecionados, bons resultados têm sido obidos com a viscossuplementação (infiltração de ácido hialurônico) e a infiltração com PRP (Plasma Rico em Plaquetas), que podem proporcionar alívio sintomático significativo e, potencialmente, promover a regeneração parcial da cartilagem.

Tratamento Cirúrgico

Quando as medidas conservadoras falham em proporcionar alívio adequado, ou quando a lesão é extensa e apresenta sintomas mecânicos como travamentos, a abordagem cirúrgica é considerada:

  • Artroscopia para desbridamento das áreas lesionadas (condroplastia), que visa remover as porções instáveis da cartilagem e estimular a formação de fibrocartilagem.
  • Técnicas de estimulação da medula óssea, como as microfraturas, que promovem o sangramento do osso subcondral e a formação de tecido cartilaginoso de reparação.
  • Em determinados casos, técnicas mais avançadas de regeneração cartilaginosa, como o uso de membranas específicas, podem ser cogitadas.

Perspectivas e Recomendações

Baseado em minha experiência clínica com dezenas de pacientes portadores de condropatia patelar grau 3, posso afirmar que o prognóstico está intimamente ligado à adesão ao tratamento e às mudanças no estilo de vida.

Recomendo enfaticamente aos meus pacientes:

  • Compromisso com o programa de reabilitação, mesmo após a melhora dos sintomas.
  • Manutenção de peso corporal adequado.
  • Adaptação das atividades físicas, privilegiando aquelas de baixo impacto como natação e ciclismo.
  • Fortalecimento muscular contínuo, mesmo após o término da fisioterapia formal.
  • Uso de calçados adequados e, em casos específicos, órteses que auxiliem no alinhamento patelar.

Conclusão

A condropatia patelar grau 3 representa um desafio clínico significativo, mas com abordagem adequada e multidisciplinar, a maioria dos pacientes consegue retornar às suas atividades com conforto e segurança.

O diagnóstico precoce e o tratamento ortopédico apropriado são fundamentais para evitar a progressão da lesão e preservar a função do joelho a longo prazo.

A combinação de terapias conservadoras com intervenções minimamente invasivas, quando necessárias, proporciona os melhores resultados.

O paciente informado e participativo, que compreende sua condição e se engaja ativamente no tratamento, invariavelmente apresenta os melhores resultados clínicos.

Dr. Ulbiramar Correia

[CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240]. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia).