A gota no joelho representa uma das manifestações articulares mais incapacitantes que observo em meu consultório diariamente.
Como ortopedista com especialização em doenças articulares, tenho notado um aumento significativo nos casos dessa condição dolorosa nos últimos anos.
Abordarei neste artigo os mecanismos de desenvolvimento da gota, seus principais sintomas quando afeta o joelho, métodos diagnósticos e as opções de tratamento atualmente disponíveis, baseando-me tanto em evidências científicas quanto em minha experiência clínica.
Também discutirei a importância de um diagnóstico precoce e o papel fundamental do ortopedista na condução desses casos.
O que é a Gota e sua Epidemiologia
A gota é uma artropatia inflamatória causada pelo acúmulo de cristais de urato monossódico (derivados do ácido úrico) nas articulações e tecidos adjacentes.
Essa condição ocorre quando os níveis de ácido úrico no sangue se elevam acima do normal, uma condição conhecida como hiperuricemia, levando à cristalização e deposição nas estruturas articulares.
Dados epidemiológicos recentes indicam um aumento preocupante nos casos de gota no mundo todo.
Um estudo publicado na revista Arthritis & Rheumatology demonstrou que havia aproximadamente 41 milhões de casos em 2017, representando um aumento de 5,5% em relação a 1990. A prevalência da doença varia entre populações, oscilando de menos de 1% a 6,8%, dependendo da região estudada.
A gota afeta predominantemente homens, com uma proporção de 7:1 a 9:1 em relação às mulheres.
A incidência aumenta significativamente após os 40 anos, e entre 60 e 69 anos, a prevalência pode ultrapassar 8% em homens. Nas mulheres, os casos tendem a surgir principalmente após a menopausa.
Gota no Joelho: Manifestações Clínicas e Diagnóstico
Entre as articulações comumente afetadas pela gota, o joelho representa uma das localizações mais frequentes depois do hálux (dedão do pé). A gota no joelho apresenta manifestações clínicas características que auxiliam seu reconhecimento:
- Dor articular intensa e súbita, frequentemente iniciando durante a noite.
- Inchaço significativo da articulação.
- Vermelhidão e calor local.
- Sensibilidade extrema ao toque, tornando até mesmo o peso de um lençol insuportável.
- Limitação de movimento do joelho.
As crises de gota no joelho tipicamente se desenvolvem de forma rápida e podem durar de 3 a 10 dias, mesmo sem tratamento.
Muitos dos meus pacientes relatam que a dor é tão intensa que os desperta durante o sono e frequentemente confundem o quadro com uma infecção devido à intensidade dos sintomas inflamatórios.
O diagnóstico definitivo é realizado através da identificação dos cristais de urato monossódico no líquido sinovial da articulação, combinado com exames de imagem como ultrassonografia ou tomografia computadorizada que podem revelar alterações características.
A dosagem de ácido úrico sérico é fundamental, embora alguns pacientes possam apresentar níveis normais durante a crise aguda.
Diante desse quadro, é de extrema importância consultar um ortopedista para o correto diagnóstico e ter acesso ao tratamento direcionado à gota no joelho.
Fatores de Risco
Durante a anamnese em meu consultório, sempre investigo os seguintes fatores de risco para gota:
- Obesidade, um dos fatores mais importantes.
- Consumo regular de álcool, especialmente cerveja..
- Dieta rica em purinas (carnes vermelhas, frutos do mar, vísceras).
- Uso de medicamentos diuréticos.
- Histórico de hipertensão, dislipidemia ou doença renal crônica.
- Histórico familiar de gota.
Abordagem Terapêutica
O tratamento da gota no joelho deve ser individualizado e segue duas linhas principais: controle da crise aguda e prevenção de novos episódios.
Tratamento da Crise Aguda
- Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como diclofenaco e indometacina.
- Colchicina, especialmente eficaz quando iniciada precocemente.
- Corticosteroides, administrados por via oral ou intra-articular nos casos resistentes.
- Compressas frias nas articulações afetadas.
- Repouso e elevação do membro acometido.
A aplicação de infiltrações com corticoides diretamente no joelho oferece alívio rápido e significativo em casos de crises intensas que não respondem adequadamente à medicação oral.
Tratamento de Manutenção e Prevenção
Após o controle da crise aguda, inicio a terapia para redução dos níveis de ácido úrico, seguindo as recomendações da Liga Europeia Contra o Reumatismo (EULAR):
- Alopurinol como medicamento de primeira linha, com dose ajustada conforme função renal.
- Febuxostat como alternativa quando o alopurinol não é tolerado ou eficaz.
- Agentes uricosúricos em casos selecionados.
A meta terapêutica é manter os níveis séricos de ácido úrico abaixo de 6 mg/dL ou até mesmo abaixo de 5 mg/dL em casos mais graves.
Como posso constatar, a adesão ao tratamento de manutenção é fundamental para evitar recorrências e complicações a longo prazo.
Abordagem Não Medicamentosa
Oriento meus pacientes sobre medidas complementares essenciais:
- Controle de peso para pacientes com sobrepeso ou obesidade.
- Hidratação adequada diária.
- Modificações dietéticas com redução de alimentos ricos em purinas.
- Limitação do consumo de álcool e bebidas açucaradas.
- Fisioterapia especializada para melhorar a mobilidade articular e aliviar sintomas residuais.
Complicações da Gota Não Tratada
Pacientes com gota no joelho não tratada adequadamente podem desenvolver:
- Destruição progressiva da cartilagem e erosões ósseas.
- Formação de tofos (depósitos de cristais de ácido úrico) dentro e ao redor da articulação.
- Limitação permanente da mobilidade articular.
- Desenvolvimento de artrose secundária.
- Aumento do risco de formação de cálculos renais.
Conclusão
A gota no joelho representa um desafio clínico que exige diagnóstico preciso e tratamento adequado.
Em minha experiência como ortopedista, os pacientes que recebem tratamento precoce e seguem as recomendações apresentam excelente prognóstico e redução significativa de crises recorrentes.
Recomendo enfaticamente que ao primeiro sinal de dor intensa, inchaço e vermelhidão no joelho, especialmente se de início súbito, procure imediatamente um ortopedista especializado para uma avaliação mais detalhada.
O diagnóstico correto da gota no joelho e o início precoce do tratamento são fundamentais para prevenir danos articulares permanentes e melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
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