Como ortopedista especialista em joelho, frequentemente recebo em meu consultório pacientes preocupados com o surgimento de cisto no joelho.
São estruturas que causam apreensão, principalmente pela visibilidade de um “caroço” que aparece inesperadamente na articulação.
É uma condição relativamente comum, caracterizada pelo acúmulo de líquido dentro de uma pequena bolsa, formando uma saliência palpável em diferentes regiões desta articulação.
Em minha prática clínica, observo que muitos pacientes demoram para buscar atendimento especializado, o que pode dificultar o tratamento adequado.
Neste artigo, abordarei detalhadamente o que são os cistos no joelho, suas principais causas, sintomas mais comuns, métodos diagnósticos e as opções de tratamento disponíveis atualmente, baseando-me tanto na minha experiência profissional quanto em evidências científicas.
O que são cistos no joelho?
Os cistos no joelho são lesões constituídas por cavidades preenchidas por líquido, geralmente líquido sinovial, que é o fluido natural que lubrifica as articulações.
Com base em minha rotina clínica, constato que essas lesões são um achado comum em exames de imagem e, muitas vezes, os pacientes nem sequer percebem sua presença até que comecem a manifestar sintomas ou que sejam identificados incidentalmente durante investigação de outras condições.
Existem diferentes tipos de cistos que podem acometer o joelho, sendo os principais:
- Cisto de Baker ou cisto poplíteo: É o tipo mais comum, formando-se na região posterior do joelho, na fossa poplítea. Ocorre quando há acúmulo de líquido sinovial nas bolsas naturais que existem entre os músculos e tendões dessa região, chamadas de bursas.
- Cistos meniscais ou parameniscais: Formam-se nos meniscos ou adjacentes a eles. Geralmente estão relacionados a lesões meniscais prévias, que permitem o escape do líquido sinovial da articulação para o cisto.
- Cistos gangliônicos: São bolsas de líquido sinovial que frequentemente se formam próximas aos ligamentos internos do joelho, como os ligamentos cruzados, ou ao revestimento da cápsula articular.
É importante destacar que, na enorme maioria dos casos, os cistos no joelho são lesões benignas, já que são formados simplesmente pelo acúmulo de líquido sinovial, e não por tumores.
No entanto, sempre oriento os pacientes sobre a importância da avaliação ortopédica especializada para descartar condições mais graves que podem mimetizar a aparência de cistos.
Causas e fatores de risco de cistos no joelho
Os cistos no joelho geralmente são consequência de outros problemas articulares, e entre as principais causas, destaco:
- Lesões articulares: Danos aos meniscos ou ligamentos do joelho podem levar à formação de cistos. Estudos mostram que lesões meniscais estão frequentemente associadas a cistos, especialmente os parameniscais.
- Condições inflamatórias e degenerativas: Artrose (osteoartrite), artrite reumatoide e gota são causas comuns de cistos no joelho, especialmente do cisto de Baker, pois estas condições aumentam a produção de líquido sinovial na articulação.
- Derrame articular: O acúmulo excessivo de líquido na articulação do joelho devido a inflamação ou lesão pode contribuir para a formação de cistos.
- Sinovite: Inflamação da membrana sinovial que reveste a articulação.
Quanto aos fatores de risco, dados científicos revelam que a prevalência de cistos poplíteos é de aproximadamente 5% da população adulta, segundo estudos com ressonância magnética.
Esta prevalência aumenta significativamente com a idade, sendo mais comum em adultos entre 35 e 70 anos.
Uma pesquisa publicada mostrou que em pacientes com dor no joelho, cerca de 24,3% apresentam evidência sonográfica de cisto de Baker, destacando que a duração da dor tem impacto significativo na prevalência do cisto.
Em crianças, os cistos de Baker geralmente são primários, sem lesões articulares adjacentes, sendo mais comuns em meninos entre 4 e 8 anos de idade.
Sintomas do cisto no joelho
Baseando-me em minha experiência clínica e na literatura médica, os sintomas de um cisto no joelho podem variar consideravelmente.
Muitos casos são assintomáticos, sendo descobertos acidentalmente durante exames de imagem realizados por outros motivos. No entanto, quando sintomáticos, os pacientes podem apresentar:
- Dor no joelho, especialmente ao movimentar a articulação.
- Inchaço visível na região afetada, mais comumente na parte posterior do joelho.
- Sensação de pressão ou desconforto, particularmente ao estender ou flexionar o joelho.
- Rigidez articular e limitação de movimentos.
- Em casos de ruptura do cisto (principalmente o de Baker), pode ocorrer dor intensa e inchaço na panturrilha, um quadro conhecido como “pseudotromboflebite”.
Um sinal clínico interessante que frequentemente verifico durante o exame físico é o chamado “sinal de Foucher”, em que o inchaço causado pelo cisto ameniza ou desaparece quando o joelho é flexionado a aproximadamente 45 graus.
Diagnóstico de cistos no joelho
O diagnóstico correto de um cisto no joelho é fundamental para estabelecer o plano de tratamento adequado.
Sempre inicio com uma anamnese detalhada e exame físico cuidadoso. Durante o exame, avalio o tamanho, localização, consistência da lesão, e a presença de dor ou limitação de movimentos.
Contudo, para confirmar o diagnóstico e identificar possíveis problemas associados, frequentemente solicito exames complementares:
- Ultrassonografia: É um exame inicial adequado para identificar e mensurar o cisto. Apresenta boa acurácia, é de fácil acesso e baixo custo.
- Ressonância magnética (RM): Considerada o padrão-ouro para avaliação do joelho, a RM permite visualizar detalhadamente o cisto e identificar lesões associadas, como rupturas meniscais ou alterações degenerativas da cartilagem.
- Radiografia simples: Apesar de não mostrar diretamente os cistos, pode ajudar a identificar outras condições articulares associadas, como artrose.
É primordial realizar o diagnóstico diferencial para distinguir um cisto de outras condições que podem apresentar sintomas semelhantes, como tumores, aneurismas poplíteos ou trombose venosa profunda.
Por isso, sempre fico atento a alguns sinais de alerta que podem indicar condições mais graves: sintomas desproporcionais ao tamanho do cisto, ausência de lesão articular que justifique o cisto, topografia atípica, erosão óssea associada, tamanho superior a 5cm ou invasão tecidual.
Tratamentos disponíveis
A abordagem terapêutica para cistos no joelho deve ser individualizada, considerando a causa subjacente, a gravidade dos sintomas e as condições gerais do paciente.
Confira abaixo as opções de tratamento disponíveis para cisto no joelho:
Tratamento conservador:
- Tratamento da condição subjacente (como artrite ou lesão meniscal).
- Repouso relativo e modificação de atividades.
- Fisioterapia para fortalecer a musculatura ao redor do joelho e melhorar a amplitude de movimentos.
- Uso de compressas frias para reduzir a inflamação.
- Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides para alívio da dor.
Intervenções médicas:
- Aspiração do cisto (drenagem): Procedimento que realizo no próprio consultório, que consiste em remover o líquido do cisto com uma agulha fina.
- Infiltração com corticosteroides: A literatura médica atual indica que a injeção intracística de corticosteroide com fenestração do cisto é um tratamento não operatório eficaz.
Tratamento cirúrgico:
- Indicado em casos selecionados, quando há persistência dos sintomas apesar do tratamento conservador.
- Pode ser realizado por via artroscópica, com ampliação da comunicação entre o cisto e a articulação.
- Excisão cirúrgica do cisto em casos mais graves.
Estudos recentes mostram que o tratamento do problema primário dentro da articulação do joelho, como uma lesão meniscal, geralmente resulta na resolução do cisto, sem necessidade de abordá-lo diretamente.
Uma revisão sistemática publicada demonstrou que a infiltração intracística com corticosteroide associada à fenestração do cisto tem se mostrado um método eficaz, com bons resultados a médio prazo.
Quando procurar um ortopedista
Recomendo consultar um ortopedista especialista nas seguintes situações:
- Aparecimento de massa ou inchaço no joelho, mesmo que indolor.
- Dor persistente na região do joelho, especialmente se acompanhada de inchaço.
- Limitação dos movimentos do joelho.
- Sinais de ruptura do cisto, como dor súbita e intensa na panturrilha.
- Inchaço que aumenta progressivamente de tamanho.
- Retorno dos sintomas após tratamento prévio.
O diagnóstico precoce e a intervenção adequada são fundamentais para prevenir complicações e garantir melhores resultados terapêuticos.
Em minha prática diária, observo que pacientes que buscam atendimento especializado nas fases iniciais geralmente apresentam desfechos mais favoráveis.
Conclusão
Os cistos no joelho são condições comuns que podem afetar pessoas de diferentes faixas etárias.
Embora geralmente benignos, podem causar desconforto significativo e limitar as atividades diárias. O entendimento adequado sobre sua natureza, causas e opções terapêuticas é essencial para o tratamento eficaz desta condição.
Em minha experiência como ortopedista especialista, tenho observado que a chave para o sucesso terapêutico reside na abordagem individualizada, tratando não apenas o cisto no joelho em si, mas principalmente a causa subjacente.
A maioria dos pacientes responde bem ao tratamento conservador, mas casos selecionados podem se beneficiar de intervenções mais invasivas.
Lembro sempre aos meus pacientes que, ao notar qualquer alteração no joelho, é fundamental buscar avaliação médica especializada para diagnóstico preciso e tratamento adequado, evitando assim complicações e garantindo um retorno mais rápido às atividades cotidianas.
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