O cisto no joelho na frente é uma condição relativamente comum que atendo com uma certa frequência no dia a dia do consultório.

Esta condição, tecnicamente conhecida como bursite pré-patelar, consiste na inflamação da bursa (pequena bolsa de líquido) localizada na região anterior do joelho, logo abaixo da pele e em frente à patela.

Neste artigo, abordarei detalhadamente as causas, sintomas, métodos de diagnóstico, opções de tratamento e medidas preventivas para o cisto no joelho na frente.

Também discutirei quando é essencial buscar avaliação ortopédica especializada para garantir um diagnóstico preciso e tratamento adequado.

O que é o cisto no joelho na frente?

O cisto no joelho na frente, ou bursite pré-patelar, ocorre quando a bursa pré-patelar fica inflamada e se enche de líquido sinovial em excesso, formando uma protuberância visível na região frontal do joelho.

As bursas são pequenas estruturas com aspecto gelatinoso distribuídas pelo corpo, incluindo ombros, cotovelos, quadris, joelhos e calcanhares, cuja função principal é reduzir o atrito entre ossos e tecidos moles durante os movimentos articulares, atuando como pequenas almofadas lubrificadas.

As bursas normalmente não são perceptíveis, tornando-se visíveis apenas quando inflamadas, causando dor e inchaço no local afetado.

O joelho possui aproximadamente 14 bursas, sendo a pré-patelar a maior delas e a mais suscetível a processos inflamatórios devido à sua localização exposta.

Esta condição recebe diversos nomes populares dependendo da ocupação mais comumente afetada: “joelho de mineiro”, “joelho de freira”, “joelho de tapeceiro” ou “joelho de empregada doméstica”.

Essa variedade de denominações reflete o forte componente ocupacional associado ao desenvolvimento desta condição.

Causas do cisto na parte anterior do joelho

Existem diversas causas para o desenvolvimento do cisto no joelho na frente. As mais frequentes são:

  1. Trauma direto: Impactos repetidos ou uma única contusão forte na região anterior do joelho podem desencadear a inflamação da bursa pré-patelar.
  2. Atividades ocupacionais: Profissões que exigem ajoelhar-se frequentemente por períodos prolongados apresentam maior risco. Em meu consultório, atendo regularmente montadores de móveis, instaladores de carpete, mecânicos, soldadores, pintores, jardineiros, encanadores, mineiros e empregadas domésticas com esta condição.
  3. Atividades esportivas: Esportes com alto risco de traumatismo no joelho, como futebol, boxe tailandês, basquetebol, luta livre, jiu-jitsu, handebol, beisebol e voleibol, frequentemente levam ao desenvolvimento desta lesão.
  4. Condições médicas subjacentes: Pacientes com artrite reumatoide e gota também apresentam predisposição aumentada para desenvolver bursite pré-patelar.
  5. Infecção: Em aproximadamente 30% dos casos, o cisto no joelho na frente pode ter origem infecciosa, geralmente por inoculação direta através de pequenas lesões na pele que servem como porta de entrada para bactérias.

Epidemiologia: quem está em risco?

Dados epidemiológicos revelam informações importantes sobre a prevalência do cisto no joelho na frente. Um estudo francês abrangente, realizado entre 2002 e 2005 com 3.710 trabalhadores, demonstrou uma prevalência de 0,6% em homens e 0,2% em mulheres.

A pesquisa evidenciou maior concentração de casos entre trabalhadores do setor de construção (2,3%) e nas indústrias alimentícias e de processamento de carne (1,4%).

Em minha experiência clínica, confirmo esses dados, observando que trabalhadores braçais são significativamente mais afetados (0,8%) em comparação com outras categorias ocupacionais (0,1%).

A incidência anual estimada é de aproximadamente 1 em 10.000 indivíduos, sendo que mais de 80% dos pacientes são homens entre 40 e 60 anos.

Uma observação importante: a incidência real provavelmente é subestimada, pois muitos casos leves não chegam a buscar atendimento médico. Em meu consultório, recebo principalmente os casos mais graves ou persistentes, especialmente quando há suspeita de infecção.

Sintomas do cisto no joelho na frente

Os pacientes que atendo com cisto no joelho na frente geralmente apresentam os seguintes sintomas:

  • Dor e inchaço na região anterior do joelho, que pode variar de leve a intensa.
  • Área avermelhada e quente ao toque, especialmente em casos de infecção.
  • Sensibilidade aumentada quando pressão é aplicada diretamente sobre a região.
  • Desconforto ao flexionar completamente o joelho, embora normalmente não haja restrição significativa na amplitude de movimento.
  • Febre e tremores, presentes nos casos de bursite infectada.

Na maioria dos casos, diferentemente da artrite, a bursite pré-patelar não limita significativamente a mobilidade do joelho, exceto em casos muito graves.

Diagnóstico do cisto no joelho na frente

O diagnóstico correto do cisto no joelho na frente é fundamental para determinar o tratamento adequado, onde o ortopedista realiza uma avaliação completa do joelho:

  1. Anamnese detalhada: Investiga-se fatores de risco ocupacionais e histórico de trauma ou doenças sistêmicas.
  2. Exame físico minucioso: Avaliação do local exato da dor, a quantidade de edema, limitações no arco de movimento e alterações da pele, bem como lesões associadas.
  3. Exames complementares: Embora o diagnóstico geralmente seja clínico, em casos duvidosos exames complementares são solicitados:
    • Ressonância magnética: O exame mais preciso para visualizar detalhadamente a bursa inflamada e descartar outras lesões.
    • Ultrassonografia: Útil para casos menos complexos.
    • Exames laboratoriais: Em suspeitas de infecção, realizo aspiração do conteúdo da bursa para análise microbiológica e contagem celular.

É fundamental diferenciar a bursite pré-patelar de outras condições que causam inchaço na região anterior do joelho, como lesões meniscais, artrite ou tumores.

Tratamento

O tratamento que prescrevo para o cisto no joelho na frente varia conforme a causa e a gravidade dos sintomas, mas geralmente segue estas abordagens:

Tratamento conservador (não cirúrgico)

Na maioria dos casos atendidos em meu consultório, o tratamento conservador é suficiente:

  1. Repouso e modificação de atividades: Recomendo evitar ajoelhar-se e modificar temporariamente atividades que sobrecarreguem o joelho.
  2. Compressas de gelo: Oriento aplicar por 15-20 minutos, várias vezes ao dia, para reduzir a inflamação.
  3. Elevação da perna: Sugiro manter o membro afetado elevado quando possível para reduzir o inchaço.
  4. Medicamentos anti-inflamatórios: Prescrevo para aliviar a dor e reduzir a inflamação.
  5. Aspiração (drenagem): Em casos de intenso processo inflamatório, realizo a punção para drenar o excesso de líquido da bursa. Após a drenagem, frequentemente aplico corticoides para diminuir a inflamação.

Tratamento para casos infecciosos

Quando diagnostico uma bursite pré-patelar infectada, o tratamento é mais agressivo:

  1. Antibioticoterapia: Inicio imediatamente, geralmente por via endovenosa nos casos mais graves.
  2. Drenagem cirúrgica: Necessária em casos onde a infecção não responde rapidamente aos antibióticos.
  3. Monitoramento frequente: Realizo reavaliações em até 48 horas para verificar a evolução e a necessidade de ajustes no tratamento.

Tratamento cirúrgico

Apesar de raramente ser indicada cirurgia para bursite pré-patelar, as principais indicações são:

  1. Casos recorrentes ou crônicos que não respondem ao tratamento conservador.
  2. Bursites infectadas graves que não melhoram com antibióticos e drenagens.
  3. Bursites associadas à gota com acúmulo de tofos gotosos na bursa.

Uma revisão sistemática recente comparou a bursectomia endoscópica com a aberta, demonstrando que ambas apresentam taxas semelhantes de recorrência após um ano e de complicações cirúrgicas.

Em minha prática, quando opto pela cirurgia, considero as particularidades de cada paciente para definir a técnica mais adequada.

Prevenção

Com base em minha experiência profissional, recomendo as seguintes medidas preventivas:

  1. Uso de joelheiras protetoras: Essencial para profissionais que trabalham ajoelhados por longos períodos.
  2. Pausas frequentes: Para esticar as pernas e evitar flexão prolongada dos joelhos.
  3. Ergonomia adequada: Adaptação do ambiente de trabalho para reduzir a necessidade de ajoelhar-se excessivamente.
  4. Aplicação de compressas de gelo: Após contusões esportivas ou períodos prolongados ajoelhado.
  5. Tratamento adequado de doenças subjacentes: Como artrite reumatoide e gota.

Quando consultar um ortopedista

Recomendo buscar avaliação ortopédica especializada nas seguintes situações:

  1. Dor persistente na região anterior do joelho, mesmo após medidas caseiras por alguns dias.
  2. Inchaço significativo ou crescente na frente do joelho.
  3. Vermelhidão, calor local e febre, que podem indicar infecção.
  4. Limitação dos movimentos do joelho associada ao inchaço.
  5. Traumas diretos na região frontal do joelho com desenvolvimento de inchaço.

Posso afirmar que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir complicações e garantir uma recuperação mais rápida e completa.

Conclusão

O cisto no joelho na frente é uma condição comum que, quando diagnosticado corretamente e tratado adequadamente, geralmente apresenta excelente prognóstico.

Embora afete principalmente trabalhadores braçais e praticantes de determinados esportes, pode acometer qualquer pessoa após trauma ou como consequência de doenças inflamatórias.

Em minha experiência clínica de anos tratando esta condição, enfatizo a importância da avaliação especializada para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado.

Seguindo as recomendações médicas e adotando medidas preventivas adequadas, é possível minimizar os riscos de recorrência e garantir um retorno seguro às atividades habituais.

Se você apresenta sintomas compatíveis com cisto no joelho na frente, não hesite em agendar uma consulta com um ortopedista para obter o tratamento mais adequado ao seu caso específico.

Dr. Ulbiramar Correia

[CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240]. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia).