Em minha experiência clínica como ortopedista especialista em problemas do joelho, é comum receber pacientes preocupados após descobrirem um aumento de volume na região posterior do joelho, questionando se cisto no joelho é perigoso.

Esta é uma dúvida frequente e compreensível, já que qualquer alteração em nosso corpo naturalmente nos causa apreensão.

Para esclarecer todas essas dúvidas, reuniu neste artigo tudo que você precisa saber sobre cistos no joelho, sua prevalência na população brasileira e mundial, os riscos potenciais, métodos diagnósticos e opções de tratamento disponíveis atualmente.

Compreender esta condição é fundamental para buscar o tratamento adequado e evitar complicações desnecessárias.

O que são cistos no joelho?

Os cistos do joelho são bolsas preenchidas por líquido que se formam na articulação ou em seus arredores.

Em meu consultório, observo que muitos pacientes confundem estas formações com tumores, o que aumenta significativamente sua ansiedade. No entanto, é importante esclarecer que estes cistos são geralmente benignos e têm diferentes origens e características.

Os principais tipos de cistos que afetam o joelho são:

Cisto de Baker (Cisto Poplíteo)

Este é o tipo mais comum. Forma-se na parte posterior do joelho, onde o líquido sinovial se acumula em uma bolsa localizada entre o tendão do músculo gastrocnêmio e a articulação.

Cisto Parameniscal

Ocorre quando há um rasgo em um dos meniscos do joelho, permitindo que o líquido sinovial vaze e forme um cisto na borda externa da articulação.

Cisto Ganglionar

Formado a partir do revestimento da cápsula articular, geralmente na região anterior do joelho.

Cisto Sinovial

Constituído por uma bolsa contendo fluido sinovial, geralmente surge em resposta a uma inflamação na articulação.

Prevalência e estatísticas

As pesquisas científicas demonstram que os cistos do joelho são condições relativamente comuns, e curiosamente, tenho notado um aumento significativo de casos nos últimos anos, possivelmente devido ao melhor acesso a métodos diagnósticos.

Um estudo publicado recentemente revelou que cerca de 25,8% dos pacientes com dor no joelho apresentavam cisto de Baker diagnosticado por ultrassonografia.

Outra pesquisa, realizada em 2023, identificou uma frequência de 19,47% de cistos de Baker em pacientes que realizaram ressonância magnética do joelho devido a dores persistentes.

Dados mais abrangentes mostram que, em uma série de 382 pacientes submetidos a exames de imagem do joelho, 145 (38%) apresentavam cisto de Baker. Este número é significativo e demonstra a relevância clínica desta condição.

No Brasil, um levantamento indicou que aproximadamente 69% dos brasileiros com mais de 18 anos relatam dores na articulação do joelho, sendo as mulheres as mais afetadas (70,5%).

Embora nem todos estes casos estejam relacionados a cistos, este dado reforça a importância de um diagnóstico preciso por um médico especialista em cistos no joelho.

Em termos epidemiológicos, estudos internacionais identificaram dois picos de incidência por idade: entre 4 a 7 anos e 35 a 70 anos, sem predileção por raça ou sexo.

Cisto no joelho é perigoso: entenda os riscos e complicações possíveis

Uma das perguntas mais frequentes que recebo em meu consultório é se cisto no joelho é perigoso. A resposta não é simples e depende de diversos fatores.

Na maioria dos casos, os cistos no joelho não representam perigo significativo e são frequentemente assintomáticos ou causam apenas sintomas leves, como inchaço e desconforto localizado.

No entanto, é fundamental compreender que algumas complicações podem ocorrer, principalmente quando o cisto atinge dimensões maiores ou não recebe tratamento adequado.

As principais complicações são:

  1. Ruptura do cisto: Ocorre em aproximadamente 50% dos casos complicados e pode causar dor aguda, inchaço e inflamação na panturrilha. Curiosamente, estudos mostram que até 80% das rupturas podem ser assintomáticas.
  2. Compressão neurovascular: Cistos volumosos podem comprimir estruturas nervosas próximas, causando dor irradiada, formigamento ou dormência na panturrilha, tornozelo ou pé. Em casos raros, pode haver compressão da veia poplítea, provocando inchaço, dor e, excepcionalmente, tromboembolismo venoso.
  3. Pseudotromboflebite: Quando um cisto rompe, pode causar sintomas que simulam trombose venosa profunda, uma condição potencialmente grave que requer diagnóstico diferencial cuidadoso.
  4. Limitação de movimento: Cistos volumosos podem restringir a amplitude de movimento do joelho, afetando significativamente a qualidade de vida do paciente.

É importante ressaltar que, complicações graves são relativamente raras. Um estudo internacional demonstrou que, entre 145 cistos de Baker identificados, apenas 10 (6,9%) apresentaram complicações.

Essas estatísticas não diminuem a importância do diagnóstico e acompanhamento adequados.

Diagnóstico

O diagnóstico preciso de cistos no joelho é essencial para determinar a abordagem terapêutica adequada.

A avaliação inicial consiste em uma anamnese detalhada e exame físico cuidadoso, porém, os exames de imagem são fundamentais para confirmação diagnóstica.

A ultrassonografia é frequentemente utilizada como primeiro exame, por ser acessível, não invasiva e permitir uma avaliação dinâmica da articulação.

Contudo, a ressonância magnética (RM) é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico, pois oferece uma visualização detalhada dos tecidos moles e permite identificar condições associadas, como lesões meniscais ou alterações degenerativas.

Em casos onde há dúvida sobre complicações vasculares, como trombose venosa profunda, exames complementares como o ultrassom Doppler podem ser necessários.

Opções de tratamento

O tratamento para cistos no joelho deve ser individualizado, considerando fatores como tamanho do cisto, sintomas apresentados e presença de condições associadas.

As principais opções de tratamento incluem:

  1. Fisioterapia: Fundamental para fortalecer os músculos ao redor do joelho, aumentar a flexibilidade e melhorar a mobilidade. Prescrevo regularmente exercícios específicos para pacientes com cistos pequenos e assintomáticos.
  2. Drenagem do cisto: Em casos de cistos volumosos ou dolorosos, a aspiração do conteúdo líquido pode proporcionar alívio imediato dos sintomas. Este procedimento é realizado em consultório, com anestesia local.
  3. Cirurgia: Reservada para casos graves ou recorrentes, onde o cisto causa limitação funcional significativa ou quando há condições associadas que necessitam de intervenção, como lesões meniscais complexas.

O tratamento deve visar não apenas o cisto, mas também sua causa subjacente. Por exemplo, se o cisto estiver associado a uma lesão meniscal ou artrite, estas condições também precisarão ser abordadas para prevenir recorrências.

Conclusão

Após anos de experiência tratando pacientes com diversas patologias do joelho, posso afirmar que a pergunta “cisto no joelho é perigoso?” merece uma resposta ponderada.

Embora na maioria dos casos os cistos representem condições benignas, complicações podem ocorrer, especialmente quando não há acompanhamento adequado.

Diante de qualquer suspeita de cisto no joelho, recomendo enfaticamente a consulta com um ortopedista especializado para avaliação detalhada e direcionamento terapêutico personalizado.

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir complicações e garantir o retorno às atividades cotidianas sem limitações.

A saúde do joelho impacta diretamente na qualidade de vida e mobilidade, e investir em cuidados especializados é sempre o melhor caminho para preservar essa articulação fundamental.

Dr. Ulbiramar Correia

[CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240]. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia).