Em minha prática clínica como ortopedista em Goiânia, recebo muitos pacientes preocupados com dores no joelho.
Uma pergunta que surge ocasionalmente é se a dor no joelho pode ser trombose. A resposta é sim, em alguns casos específicos, a dor na região posterior do joelho pode estar relacionada à formação de coágulos sanguíneos na veia poplítea, caracterizando uma trombose venosa profunda (TVP).
Para esclarecer todas essas dúvidas, vou abordar os sintomas, diagnóstico, tratamentos e métodos de recuperação para essa condição potencialmente grave que, segundo dados recentes, causa 165 internações diárias no Brasil.
O que é trombose venosa profunda?
A trombose venosa profunda é caracterizada pela formação de um coágulo sanguíneo em uma ou mais veias profundas do corpo.
Embora possa ocorrer em diferentes partes do organismo, é mais comum nas pernas, especialmente na panturrilha.
Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, mais de 489 mil brasileiros foram hospitalizados devido a tromboses venosas entre janeiro de 2012 e agosto de 2023.
Este quadro é particularmente alarmante porque a trombose, quando não diagnosticada e tratada adequadamente, pode evoluir para complicações graves como a embolia pulmonar, condição potencialmente fatal em que um fragmento do coágulo se desprende e viaja até os pulmões.
Dor no joelho pode ser trombose?
Sim, a dor no joelho pode ser trombose quando há formação de um coágulo na veia poplítea, que corre pela parte de trás do joelho e carrega o sangue da parte inferior da perna de volta ao coração.
No entanto, é importante destacar que a dor por trás do joelho raramente é o primeiro sintoma de TVP. Mais frequentemente, a dor associada à trombose venosa profunda ocorre na panturrilha.
Um aspecto que observo na minha prática clínica é que muitos pacientes confundem esse quadro com outras condições mais comuns que afetam o joelho, como o cisto de Baker (uma protuberância cheia de líquido que causa dor e inchaço atrás do joelho).
Principais sintomas de trombose no joelho
Baseado nos casos que tenho acompanhado ao longo dos anos e na literatura científica, os principais sintomas de trombose na região do joelho incluem:
- Dor atrás do joelho, que pode ser moderada a intensa.
- Inchaço no joelho e/ou na perna.
- Sensação de calor na área afetada.
- Vermelhidão na pele, particularmente na parte posterior da perna.
- Dor semelhante a câimbras, que pode piorar ao flexionar o pé em direção ao joelho.
Um ponto que sempre enfatizo para meus pacientes é que a trombose venosa profunda pode ser assintomática em até 40% dos casos, o que torna ainda mais importante a avaliação de um ortopedista para confirmar ou não a suspeita de trombose.
Sinais de alerta que podem indicar complicações graves como embolia pulmonar incluem falta de ar súbita, dor torácica que piora com a respiração e taquicardia, sintomas esses que representam uma emergência médica e requerem atendimento imediato.
Fatores de risco para trombose
Durante as consultas em meu consultório, sempre avalio os fatores de risco para trombose, que incluem:
- Imobilização prolongada (viagens longas, repouso no leito)
- Cirurgias recentes, especialmente ortopédicas envolvendo o joelho
- Obesidade
- Idade avançada (risco aumenta após os 60 anos)
- Uso de anticoncepcionais hormonais, principalmente quando associado ao tabagismo
- Gravidez e pós-parto
- Histórico familiar ou pessoal de trombose
- Câncer e tratamentos oncológicos
De acordo com estudos, toda cirurgia aumenta o risco de TVP devido ao período de imobilismo e à cascata inflamatória gerada pelo procedimento.
No caso específico das cirurgias do joelho, existe ainda o edema e processo inflamatório local no membro operado, que dificulta o retorno venoso, aumentando ainda mais o risco.
Diagnóstico da trombose no joelho
Quando há suspeita de que a dor no joelho pode ser trombose, o diagnóstico preciso é fundamental. Geralmente sigo este protocolo:
- Anamnese detalhada, investigando sintomas e fatores de risco
- Exame físico, avaliando sinais como inchaço, dor à palpação e o sinal de Homans
- Ultrassonografia Doppler, que é o método complementar mais utilizado para o diagnóstico de TVP
- Exames de sangue, como o D-Dímero, que quando elevado pode sugerir a presença de trombose
O ultrassom Doppler é particularmente útil, pois permite visualizar as veias, identificar a localização exata da trombose e determinar a extensão do quadro.
Tratamentos para trombose
Quando confirmo o diagnóstico de trombose em um paciente, o tratamento geralmente inclui:
- Anticoagulantes: medicamentos que evitam o crescimento do coágulo e previnem a formação de novos coágulos. Podem ser:
- Heparina de baixo peso molecular (HBPM)
- Anticoagulantes orais diretos (DOACs) como rivaroxabana, edoxabana, apixabana e dabigatrana
- Antagonistas da vitamina K, como a varfarina
- Terapia de compressão: uso de meias compressivas para melhorar o fluxo sanguíneo
- Elevação do membro afetado, especialmente durante a noite
- Em casos selecionados e mais graves que tratei em minha carreira, tratamentos mais invasivos podem ser necessários, como fibrinólise dirigida por cateter ou colocação de filtro de veia cava.
Recuperação após uma trombose
A abordagem da recuperação após diagnóstico de trombose mudou significativamente. Anteriormente, o protocolo convencional consistia em restrição ao leito.
Estudos recentes contestam essa abordagem, recomendando:
- Mobilização precoce, desde que associada à terapia de anticoagulação adequada e compressão do membro. Estudos demonstram que a mobilização precoce está associada à redução da dor e do edema, melhorando a qualidade de vida sem aumentar o risco de complicações.
- Fisioterapia especializada, incluindo exercícios de resistência, fortalecimento muscular e técnicas como manipulação de tecidos moles. Um estudo de caso mostrou melhora significativa após 8 semanas de tratamento fisioterapêutico, com redução do edema em centímetros e diminuição da dor.
- Uso contínuo de meias de compressão durante o dia (4-8 horas) e elevação dos membros inferiores durante a noite.
- Acompanhamento regular para monitorar a resolução do coágulo e ajustar o tratamento.
A maioria dos pacientes apresenta melhora significativa dos sintomas em 2-3 meses, embora o tratamento anticoagulante possa durar de 3 meses a um ano, dependendo dos fatores de risco específicos e do tipo de trombose.
A Cochrane Review avaliou os melhores tratamentos para trombose venosa distal e concluiu que até três meses de anticoagulantes é superior à observação para prevenir recorrência.
Conclusão
A dor no joelho pode ser trombose em alguns casos específicos, especialmente quando afeta a região posterior da articulação e está associada a sintomas como inchaço e calor local.
Como anos de experiência como ortopedista especializado em problemas no joelho, recomendo fortemente que qualquer dor persistente no joelho seja avaliada por um especialista, principalmente se você apresenta fatores de risco para trombose.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para evitar complicações graves como a embolia pulmonar.
Diante dos números alarmantes de internações por trombose no Brasil – 165 casos diários – não subestime sintomas persistentes no joelho e busque avaliação médica especializada.
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