O joelho é uma das articulações mais complexas do nosso corpo. Por causa de sua estrutura e das grandes forças que suporta todos os dias, ele sofre lesões com muita frequência.

Entre estas lesões, as lesões nos ligamentos do joelho são especialmente importantes e representam uma das dúvidas mais comuns que recebo no consultório.

São lesões que atingem desde atletas profissionais até pessoas comuns durante atividades do dia a dia, e podem comprometer seriamente o movimento e a estabilidade da pessoa.

Neste artigo, como ortopedista especialista em lesões ligamentares do joelho em Goiânia, vou explicar de forma clara como o joelho é formado, como as lesões acontecem, quais são os tratamentos disponíveis e o que esperar da recuperação.

Meu objetivo é fornecer informações completas e fáceis de entender para que você conheça melhor este problema ortopédico tão comum.

Anatomia e biomecânica dos ligamentos

O joelho não conta com uma base óssea muito firme, então depende bastante dos ligamentos para manter estabilidade e funcionar bem.

Essa característica deixa a articulação mais propensa a lesões quando é exposta a forças fora do comum ou muito fortes.

A estabilidade depende da cápsula articular, dos ligamentos, dos meniscos e dos músculos próximos, que trabalham em conjunto.

Quatro ligamentos são fundamentais nessa proteção, divididos em dois grupos: os colaterais (laterais e mediais) e os cruzados (no interior da articulação).

• O Ligamento Cruzado Anterior (LCA:) está no centro do joelho e impede que a tíbia avance em excesso em relação ao fêmur. Ele controla também a rotação do joelho, algo essencial em mudanças rápidas de direção.
• O Ligamento Cruzado Posterior (LCP), que se cruza com o LCA, evita que a tíbia se desloque para trás em excesso.
• O Ligamento Colateral Medial (LCM), ou ligamento colateral tibial, fica na parte interna do joelho. Ele resiste a movimentos que empurram o joelho para o lado interno, sendo frequente em esportes de contato.
• O Ligamento Colateral Lateral (LCL) fica na parte externa, bloqueando movimentos que pressionam o joelho para o lado de fora.

Como acontecem as lesões nos ligamentos do joelho

As lesões nos ligamentos do joelho ocorrem quando forças muito grandes atingem essas estruturas, ultrapassando sua resistência natural. Cada ligamento pode se machucar de maneiras diferentes.

Lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)

• Como acontece: Geralmente ocorre quando a pessoa torce o joelho com o pé preso no chão, como ao frear de repente ou mudar rapidamente de direção.
• Sinais: A pessoa geralmente ouve um estalo, sente dor forte e o joelho incha rapidamente.
• Quem afeta mais: Homens jovens entre 10 e 39 anos, principalmente quem pratica esportes de impacto.

Lesão do Ligamento Cruzado Posterior (LCP)

• Como acontece: Normalmente por pancadas diretas na frente do joelho ou quando o joelho é forçado para trás.
• Causas comuns: Acidentes de carro, quedas de altura e lesões esportivas.
• Comparação: Menos comum que as lesões do LCA e geralmente causa menos inchaço.

Lesão do Ligamento Colateral Medial (LCM)

• Como acontece: Quando há pancada na parte de fora do joelho, forçando-o para dentro.
• Características: Uma das lesões mais frequentes, causa dor e inchaço na parte interna do joelho.
• Lesões associadas: Em casos de trauma forte, pode vir acompanhada de lesões no LCA e no menisco medial.

Lesão do Ligamento Colateral Lateral (LCL)

• Como acontece: Quando uma força atinge a parte interna do joelho, empurrando-o para fora.
• Frequência: Menos comum que as outras lesões.
• Característica: Raramente acontece sozinha, geralmente vem junto com lesões em outras partes do joelho.

Dados estatísticos

Uma pesquisa de 2016 mostrou que, entre os problemas do joelho:

• Artrose está em primeiro lugar (14,91%);
• Lesões do menisco medial em segundo (14,36%);
• Lesões do LCA em terceiro (13,55%).

O estudo também revelou que homens têm mais lesões traumáticas e relacionadas ao esporte, como as do LCA, enquanto mulheres sofrem mais com problemas crônicos, como a artrose.

Manifestações clínicas e diagnóstico

Como especialista em ortopedia do joelho, vejo diariamente em meu consultório pacientes com lesões ligamentares. Aqui explico de maneira simples como estas lesões se manifestam e como fazemos o diagnóstico.

Como as lesões se manifestam

Quando um ligamento do joelho se rompe, o paciente geralmente sente:

• Dor;
• Inchaço;
• Sensação de instabilidade (joelho “falseando”);
• Dificuldade para andar ou fazer movimentos.

Ligamento Cruzado Anterior (LCA)

Os pacientes frequentemente me relatam que ouviram um “estalo” no momento da lesão.

O joelho incha rapidamente nas primeiras 24 horas e, quando o inchaço diminui, aparece a instabilidade – aquela sensação de que o joelho pode “falhar” a qualquer momento, principalmente ao fazer movimentos de rotação.

Ligamento Cruzado Posterior (LCP)

Neste caso, os pacientes sentem dor na parte de trás do joelho e alguma instabilidade, mas o inchaço costuma ser menor. Muitos descrevem desconforto principalmente ao descer escadas.

Ligamento Colateral Medial (LCM)

A dor aparece na parte interna do joelho, com inchaço e sensibilidade ao toque nesta região. O joelho fica instável principalmente quando forçado para dentro.

Ligamento Colateral Lateral (LCL)

Causa dor na parte externa do joelho e possível instabilidade lateral. Como raramente acontece sozinha, costuma vir acompanhada de outros sintomas.

Como fazemos o diagnóstico

Em minha prática clínica, baseio o diagnóstico em três pontos principais:

1. Conversa detalhada: Pergunto como aconteceu a lesão, quais sintomas apareceram na hora e como evoluíram.
2. Exame físico: Faço testes específicos para cada ligamento. Por exemplo, para o LCA, realizo o teste de Lachman, que é feito com o joelho levemente dobrado e avalia se a tíbia se move demais para frente. Este é o teste mais confiável para detectar lesões no LCA.
3. Exames de imagem:
   • Raio-X: Não mostra os ligamentos diretamente, mas pode revelar outros problemas ósseos.
   • Ressonância magnética: É o exame mais importante, pois mostra claramente os ligamentos e outras estruturas que podem estar lesionadas junto.
   • Em alguns casos, podemos precisar de uma artroscopia diagnóstica (pequena cirurgia com câmera).

Como ortopedista especializado em joelho, posso afirmar que o diagnóstico correto e precoce é fundamental para definir o melhor tratamento e garantir uma boa recuperação.

Abordagem terapêutica

Com base na minha prática clínica, vou explicar de forma simples as opções de tratamento para lesões nos ligamentos do joelho.

Tratamento conservador (sem cirurgia)

Quando um paciente chega ao meu consultório com uma lesão ligamentar leve ou moderada, geralmente inicio com:

• Proteção, repouso, gelo, compressão e elevação do joelho;
• Medicamentos para dor e inflamação;
• Uso de imobilizador quando necessário.

Este tratamento funciona muito bem para:

• Lesões leves e moderadas do Ligamento Colateral Medial e Lateral;
• Algumas lesões do Ligamento Cruzado Posterior sem muita instabilidade.

Para o Ligamento Colateral Medial, o tratamento sem cirurgia dá ótimos resultados porque este ligamento tem boa cicatrização natural. A recuperação leva de 3 a 6 semanas, dependendo da gravidade.

Tratamento cirúrgico

Na minha experiência como ortopedista, indico cirurgia para:

• Rupturas completas do Ligamento Cruzado Anterior;
• Lesões combinadas (quando mais de um ligamento está rompido);
• Casos específicos de lesões do Ligamento Cruzado Posterior com muita instabilidade.

A reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior é uma das cirurgias mais comuns que realizo, usando geralmente um tendão do próprio paciente como “novo ligamento”.

Prefiro fazer essas cirurgias por artroscopia – um procedimento minimamente invasivo com pequenos cortes.

Uso uma câmera fina e instrumentos especiais para visualizar dentro do joelho e reconstruir o ligamento com precisão.

Esta técnica causa menos trauma, permite recuperação mais rápida e tem menos riscos de complicações.

Recuperação e reabilitação

Considero a fisioterapia tão importante quanto a cirurgia. A reabilitação segue etapas progressivas:

1. Controle da dor e inchaço.
2. Recuperação dos movimentos do joelho.
3. Fortalecimento muscular.
4. Retorno gradual às atividades normais e esportes.

Para alguns pacientes idosos ou com baixa demanda física, posso recomendar o tratamento não cirúrgico mesmo para lesões mais graves, focando em fortalecer os músculos ao redor do joelho para compensar a falta do ligamento.

Conclusão

Como ortopedista especialista em joelho, vejo diariamente como as lesões ligamentares afetam pessoas de todas as idades e níveis de atividade física.

O primeiro passo para o sucesso do tratamento é um diagnóstico preciso. Na minha prática, valorizo muito a conversa detalhada com o paciente, o exame físico cuidadoso e os exames de imagem apropriados. Só assim consigo definir o melhor caminho a seguir: tratamento com ou sem cirurgia.

Nos últimos anos, temos visto grandes avanços nas técnicas cirúrgicas e nos programas de reabilitação.

Hoje realizamos cirurgias menos invasivas, com cortes pequenos e recuperação mais rápida. Mesmo assim, é importante destacar que a recuperação completa leva tempo, especialmente nas lesões do Ligamento Cruzado Anterior, e exige dedicação do paciente.

Um aspecto que sempre destaco no consultório é a importância da prevenção. Programas específicos de fortalecimento e equilíbrio muscular podem reduzir significativamente o risco destas lesões, principalmente em atletas.

A ciência continua avançando nesta área, com pesquisas sobre novas técnicas de reconstrução e reabilitação. Isso nos dá a certeza de que os resultados serão cada vez melhores, melhorando a qualidade de vida dos meus pacientes com lesões ligamentares do joelho.

Imagens: Créditos Pexels