Preparo Imunológico: entenda a importância antes da cirurgia

É de conhecimento que qualquer tipo de intervenção realizada, como por exemplo uma cirurgia, sendo considerado um estresse ao organismo e ter um suporte alimentar adequado, irá tornar a recuperação mais eficiente, já que os nutrientes necessários serão ofertados na quantidade adequada ao indivíduo.

Neste momento, o sistema imunológico irá ser requisitado de forma mais intensa e precisa estar trabalhando de forma eficiente a fim de evitar possíveis infecções e tornar possível uma cicatrização de forma adequada.

Diversos estudos mostram que pacientes cujo estado nutricional pré operatório está prejudicado, com perda de peso por exemplo, irão apresentar um risco nutricional maior no período pós operatório, onde a desnutrição é um fator de risco muito significativo de que poderá acontecer complicações pós operatórias, principalmente em cirurgias abdominais de grande extensão.

Um paciente bem nutrido geralmente tolera melhor uma cirurgia de grande porte do que outro que está gravemente mal nutrido. A má nutrição está diretamente relacionada à alta incidência de complicações operatórias, de morbidade e mortalidade.

Possíveis complicações sem o preparo imunológico

Dentre as possíveis complicações em pacientes mal nutridos quando submetidos ao tratamento clínico e cirúrgico podemos citar:

  1.  Infecções;
  2.  Sepse;
  3.  Pneumonia;
  4.  Falha respiratória;
  5. Formação de abscesso;
  6. Dificuldade na cicatrização de feridas no pós operatório;
  7. Morte.

No que se confere ao aporte pré operatório, aos pacientes que possuem uma recomendação, o preparo imunológico deverá ser feito por meio de uma terapia nutricional com suplementos que apresentem nutrientes que, além de trazerem um benefício nutricional, tenham uma ação imunomoduladora, tais como a presente em ácidos graxos ômega-3 (w-3), arginina e nucleotídeos.

Este preparo imunológico no pré operatório por meio da nutrição consiste no consumo de nutrientes imunomoduladores e é recomendado seu consumo de 5 á 7 dias antes da cirurgia e deverá ser individualizado conforme a extensão da cirurgia (média ou grande) e levando sempre em consideração as necessidades do indivíduo.

Essa imunonutrição irá agir diminuindo a resposta inflamatória, fortalecendo o sistema imunológico e estimulando uma cicatrização de forma eficiente. A nutrição adequada está intimamente ligada à competência imunológica e a redução de riscos para infecções.

Preparo imunológico

Como objetivos do preparo imunológico podemos citar:

  •  Diminuição das chances de complicação no pós-operatório;
  •  Redução do tempo de internação hospitalar;
  • Auxílio na recuperação do paciente.

Caso o paciente possua diabetes é imprescindível que haja o controle dos níveis de glicose antes da cirurgia a fim de melhorar a recuperação.

Sabe-se que em pacientes cirúrgicos, a presença de diabetes mellitus (DM) ou o quadro de hiperglicemia está visceralmente associado ao aumento da morbimortalidade, com taxas de mortalidade perioperatória de até 50% maior do que em indivíduos não diabéticos.

Nos pacientes diabéticos a cicatrização está comprometida visto que é mais lenta devido a mecanismos como a produção excessiva de Espécies Reativas de Oxigênio (ERO’s), diminuição de Óxido Nítrico (NO), diminuição da resposta aos fatores de crescimento (GF’s) e das proteínas que são responsáveis pela sinalização da via da insulina.

A ocorrência e a frequência com que a hiperglicemia acontece deve ser sempre questionada, visto que interferem na conduta de medicações usadas no pré operatório, além da frequência de hospitalização que também está relacionada ao controle glicêmico e consequentemente das descompensações agudas.

Outro ponto a ser analisado é a capacidade do paciente em estar medindo a sua glicemia de forma adequada e que este entenda todos os princípios da terapia do diabetes, já que também irão influenciar no manejo perioperatório destes indivíduos.

Na ausência do quadro de diabetes mellitus (DM), estudos realizados em duas revisões pela Cochrane, sugerem que os pacientes possam ingerir líquidos até poucas horas antes da cirurgia sem causar maior risco de morbidade.

Bebidas carboidratadas no período pré operatório estão se mostrando eficientes no aumento do controle glicêmico, além da diminuição das perdas de nitrogênio, massa corporal magra e força muscular após grandes cirurgias abdominal e colorretal.

Manter um bom estado imunológico:

Pontos importantes que também precisam ser analisados para manter um bom estado imunológico e reduzir complicações no pós operatório são:

  • Revisão dos medicamentos em uso: fazer uma minuciosa história farmacológica, abordando todos os comprimidos que estão consumidos, visto que, por uma questão cultural, a maioria dos pacientes têm a tendência de chamar de medicamento apenas o que julgam estar em uso para tratamento de doenças e omitindo assim o uso de analgésicos e anti-inflamatórios que por vezes são tomados de forma esporádica para tratamento de dor, anticoncepcionais e terapias hormonais, bem como fitoterápicos. Vale ressaltar que a conversa com o paciente sobre todo comprimido ingerido, assim como a sua frequência de utilização é de suma importância.
  • Caso o medicamento não tenha interação com a anestesia a ser utilizada e nem no procedimento poderá ser mantido, do contrário será necessário a avaliação considerando o risco X benefício de sua retirada.
  • Interrupção do tabagismo e consumo do álcool: aconselhável que haja abstinência do álcool antes da cirurgia, e a interrupção do tabagismo vem sendo sugerida que aconteça de 4-6 semanas antes da cirurgia visando a redução do risco de complicações no pós operatório.14-15 O tabaco está estreitamente associado à dificuldade de cicatrização de feridas cirúrgicas. A interrupção do tabaco beneficia, sobretudo, o sistema cardiovascular e o aparelho respiratório e por isso sugere-se um intervalo de pelo menos 6 semanas.

Diante do exposto, podemos concluir que é indispensável um preparatório do ponto de vista nutricional, visando o ajuste de nutrientes importantes na recuperação do paciente submetido a uma grande cirurgia e que a conduta seja alinhada com o médico responsável pelo procedimento a fim de garantir a recuperação mais rápida e eficiente do paciente.

Referências:

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  2.   L. Kathleen Mahan, Sylvia Escott-Stump, Janice L. Raymond; Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia [tradução de Cláudia Coana et al.], cap. 39, p. 884-89 – Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
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  4.   ESPEN Guidelines Oncology – Arends J et al, Immunonutrition (Arginine, N-3 fatty acids, nucleotides) in perioperative care. Clin Nutrition, 2016.
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  7.       Soreide E., L jungqvist O: Modern preoperative fasting guidelines: a summary of the presente recommendations and remaining questions, Best Pract. Res. Clin. Anaesthesiol 20:483, 2006.
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Dr. Ulbiramar Correia

Ortopedista especialista em joelho [CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240]. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia).