A bursite no joelho representa uma das condições ortopédicas mais frequentes em meu consultório.

Como ortopedista especializado em medicina esportiva e problemas articulares, observo que esta inflamação das bursas (pequenas bolsas preenchidas com líquido sinovial) pode afetar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

O tratamento de bursite no joelho envolve desde medidas conservadoras até intervenções cirúrgicas em casos específicos, dependendo da gravidade e da causa subjacente.

Neste artigo, abordarei detalhadamente os diferentes tipos de bursite no joelho, seus sintomas, causas e, principalmente, as opções terapêuticas mais eficazes segundo as evidências científicas mais recentes.

O que é bursite no joelho e quais são seus tipos

A bursite é uma condição inflamatória que afeta as bursas, estruturas semelhantes a pequenas bolsas preenchidas com líquido sinovial, localizadas entre ossos, músculos, tendões e ligamentos.

Sua função primária é reduzir o atrito entre essas estruturas durante os movimentos do joelho. Muitos não sabem, mas o joelho possui aproximadamente 11 bursas distintas, cada uma susceptível à inflamação em diferentes circunstâncias.

Os principais tipos de bursite no joelho são:

  1. Bursite pré-patelar: Localizada na parte anterior do joelho, logo à frente da patela. Também conhecida como “joelho de carpinteiro”, é comum em pessoas que se ajoelham frequentemente.
  2. Bursite anserina: Afeta a região medial do joelho, na inserção dos tendões da “pata de ganso”. Estudos mostram que essa condição é particularmente comum em mulheres com sobrepeso e osteoartrite de joelho.
  3. Bursite infrapatelar: Pode ser superficial ou profunda, localizando-se abaixo da patela. A variante superficial também é chamada de “joelho do clérigo”.
  4. Bursite da banda iliotibial: Ocorre na parte lateral do joelho e frequentemente afeta corredores.
  5. Bursite semimembranosa: Localizada na parte posterior do joelho, também conhecida como cisto de Baker quando forma uma protuberância visível.

Em um estudo conduzido por Rennie e Saifuddin, a prevalência de bursite anserina foi de apenas 2,5% (13 joelhos entre 488 avaliados por ressonância magnética), embora outros estudos sugiram prevalência mais elevada em populações específicas.

Sintomas e diagnóstico

Os sintomas da bursite no joelho variam conforme o tipo e a gravidade da inflamação. Na minha rotina de atendimentos, os pacientes geralmente relatam:

  • Dor localizada na região afetada, que pode piorar durante movimentos específicos como subir escadas.
  • Inchaço e aumento de volume na área.
  • Sensação de calor e, em alguns casos, vermelhidão.
  • Sensibilidade ao toque e pressão.
  • Limitação de movimento e rigidez articular.
  • Em casos mais graves, formação de um nódulo ou “caroço” visível, especialmente na bursite pré-patelar.

O diagnóstico correto é fundamental para o sucesso do tratamento. Em meu consultório, realizo uma avaliação clínica detalhada, que inclui anamnese completa e exame físico minucioso.

Quando necessário, solicito exames complementares como ultrassonografia, ressonância magnética ou, em casos específicos, aspiração do líquido da bursa para análise.

É essencial diferenciar a bursite de outras condições que afetam o joelho, como lesões meniscais, ligamentares ou condromalácia patelar.

Daí a importância de sempre consultar um ortopedista especializado para avaliação adequada.

Causas e fatores de risco

A bursite no joelho apresenta diferentes causas e fatores de risco:

  • Trauma direto ou lesões: Quedas ou golpes na região do joelho podem desencadear um processo inflamatório agudo
  • Movimentos repetitivos: Atividades que exigem flexão e extensão constantes do joelho, como agachamentos excessivos
  • Posições mantidas: Permanecer ajoelhado por longos períodos, comum em algumas profissões como encanadores e carpinteiros
  • Atividades esportivas de alto impacto: Corrida em superfícies irregulares, esportes com mudanças bruscas de direção
  • Sobrepeso e obesidade: O excesso de peso aumenta a pressão sobre as articulações do joelho
  • Infecções: Embora menos comuns, infecções bacterianas podem causar bursite séptica, uma condição grave que requer intervenção imediata
  • Doenças reumatológicas: Condições como artrite reumatoide e gota podem predispor à inflamação das bursas

Em um estudo com 62 pacientes com osteoartrite de joelho, 29 (46%) apresentaram diagnóstico clínico de bursite anserina, todas mulheres, destacando a frequente associação entre estas condições.

Tratamento de bursite no joelho

O tratamento de bursite no joelho deve ser individualizado, considerando o tipo específico de bursite, a causa subjacente e a gravidade dos sintomas.

Geralmente, adota-se uma abordagem gradual:

Tratamentos conservadores

Para casos leves a moderados:

  1. Repouso relativo: Evitar atividades que exacerbem a dor, sem imobilização completa da articulação.
  2. Aplicação de gelo: Compressas frias por 15-20 minutos, 3-4 vezes ao dia, especialmente nas primeiras 48-72 horas após o início dos sintomas.
  3. Elevação do membro: Para reduzir o edema e melhorar a circulação.
  4. Compressão suave: Com bandagem elástica, quando apropriado.

Tratamento medicamentoso

Os medicamentos mais utilizados incluem:

  1. Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Como ibuprofeno e naproxeno, para reduzir a inflamação e dor. Prescrevo com cautela, considerando possíveis contraindicações, especialmente em pacientes com problemas gastrointestinais ou renais
  2. Analgésicos simples: Para alívio da dor quando os AINEs são contraindicados
  3. Injeções de corticosteroides: Em casos que não respondem ao tratamento inicial, uma injeção local de glicocorticoides pode proporcionar alívio significativo. Estudos mostram eficácia em mais de 70% dos casos, embora o efeito possa ser temporário

Fisioterapia

A fisioterapia desempenha papel chave no tratamento da bursite. Em minha clínica, trabalho em estreita colaboração com fisioterapeutas para desenvolver programas individualizados que envolvem:

  1. Exercícios de fortalecimento muscular: Especialmente para o quadríceps, essenciais para estabilizar a articulação do joelho.
  2. Alongamentos específicos: Para melhorar a flexibilidade e reduzir a tensão ao redor da articulação.
  3. Técnicas de mobilização articular: Para manter a amplitude de movimento.
  4. Terapias físicas: Como ultrassom terapêutico e laserterapia, que podem auxiliar na redução da inflamação.

Intervenções cirúrgicas

Em aproximadamente 5-10% dos casos atendidos em minha clínica, o tratamento conservador não é suficiente, sendo necessária intervenção cirúrgica. As principais indicações incluem:

  1. Bursite séptica: Casos de infecção requerem drenagem cirúrgica imediata, limpeza e antibioticoterapia apropriada.
  2. Bursite crônica refratária: Quando não há resposta aos tratamentos conservadores após 3-6 meses.
  3. Bursas hipertrofiadas: Casos em que a bursa permanece significativamente aumentada, causando limitação funcional importante.

Os procedimentos cirúrgicos geralmente são minimamente invasivos, com rápida recuperação e excelentes resultados quando bem indicados.

Prevenção e recomendações

Com base em minha experiência de mais de 15 anos tratando problemas articulares, recomendo as seguintes medidas preventivas:

  1. Controle de peso: Um programa de redução de peso para pacientes com sobrepeso ou obesidade pode reduzir significativamente o estresse sobre o joelho.
  2. Técnica correta em atividades físicas: Orientação adequada para evitar sobrecarga articular durante exercícios.
  3. Proteção para o joelho: Uso de joelheiras ou almofadas ao trabalhar ajoelhado.
  4. Fortalecimento muscular preventivo: Exercícios regulares para fortalecer a musculatura do quadríceps e isquiotibiais.
  5. Evitar posições mantidas: Alternar posições e fazer pausas frequentes em atividades que exigem ajoelhar-se.

Conclusão

O tratamento de bursite no joelho requer uma abordagem multidisciplinar e individualizada. Como ortopedista, sempre enfatizo a importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado para prevenir complicações e cronificação do problema.

A maioria dos pacientes responde bem ao tratamento conservador, mas é fundamental consultar um especialista para avaliar cada caso específico e determinar a abordagem mais adequada.

Em minha prática clínica, tenho observado resultados excelentes quando o tratamento é iniciado precocemente e seguido corretamente pelo paciente.

Cada organismo responde de maneira única ao tratamento, e ajustes ao longo do processo terapêutico podem ser necessários para alcançar o melhor resultado possível.

Dr. Ulbiramar Correia

[CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240]. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia).