Ao longo dos meus anos de experiência como ortopedista especializado em joelho, tenho observado um aumento significativo no número de pacientes que procuram meu consultório com queixas de dor lateral no joelho.
A síndrome do corredor, também conhecida cientificamente como síndrome do trato iliotibial, tornou-se uma das principais causas de afastamento de atletas amadores e profissionais dos esportes que mais amam.
Esta condição, que afeta entre 1,6% a 12% dos corredores mundialmente, representa um desafio tanto para os pacientes quanto para nós, profissionais da saúde, devido à sua natureza recorrente quando não tratada adequadamente.
Entendendo a Anatomia e o Mecanismo da Lesão
Sempre explico aos meus pacientes que para compreender a síndrome do corredor, é fundamental conhecer a anatomia envolvida.
O trato iliotibial é uma banda de tecido fibroso resistente que se estende desde a pelve até a tíbia, passando pela lateral da coxa e cruzando a articulação do joelho.
Esta estrutura tem um papel chave na estabilização do joelho durante os movimentos de corrida.
O problema surge quando há atrito repetitivo desta banda contra o côndilo lateral do fêmur, principalmente durante os movimentos de flexão e extensão do joelho.
Durante a corrida, especialmente em longas distâncias, este atrito constante pode levar à inflamação da bursa local, resultando nos sintomas característicos que meus pacientes relatam: dor aguda na lateral do joelho que piora progressivamente durante a atividade física.
Fatores de Risco
Determinados perfis de pacientes apresentam maior predisposição ao desenvolvimento desta síndrome.
Dados brasileiros indicam que a prevalência de lesões em corredores recreativos no país é de 36,5%, sendo o joelho o local mais acometido.
Os fatores de risco mais comuns que observo em meus pacientes são:
- Fraqueza muscular dos abdutores do quadril.
- Encurtamento da banda iliotibial.
- Aumento súbito na carga de treino.
- Erros de planejamento.
Mulheres corredoras apresentam uma incidência ligeiramente maior devido à maior largura da pelve em relação ao fêmur, o que altera a biomecânica da corrida
Estudos internacionais mostram que a incidência pode variar de 15% a 24% em algumas populações de corredores, evidenciando a magnitude do problema.
Síndrome do Corredor: Como é Feito o Diagnóstico
O diagnóstico da síndrome do corredor se baseia principalmente na história clínica e no exame físico detalhado.
Na consulta, costumo investigar o padrão da dor, que geralmente aparece após alguns minutos de corrida e se intensifica à medida que a atividade continua.
Em casos mais avançados, o desconforto pode surgir já no início do exercício ou durante atividades simples do dia a dia.
Utilizo testes clínicos como o de Noble e de Ober, que são ferramentas eficazes para confirmar a suspeita diagnóstica.
A palpação da face lateral do joelho, particularmente cerca de 2 cm acima da linha articular, quase sempre reproduz a dor.
Em situações específicas, solicito exames de imagem, como a ressonância magnética, para excluir outras causas e avaliar o grau da inflamação.
Tratamento Conservador
O tratamento da síndrome do corredor que aplico em minha prática é, na grande maioria dos casos, conservador.
Começamos com o controle da dor através de repouso relativo, compressas frias e anti-inflamatórios, quando necessário.
Na fase seguinte, entramos com a reabilitação, que considero o ponto-chave para a recuperação completa. Junto com fisioterapeutas especializados, estabelecemos um plano de fortalecimento muscular, com foco nos músculos estabilizadores do quadril, como o glúteo médio e os abdutores.
A liberação miofascial da banda iliotibial com técnicas de massagem e uso de rolo de liberação (foam roller) também é amplamente recomendada.
Sempre explico aos pacientes que essa lesão exige disciplina: mesmo após melhora dos sintomas, é fundamental manter os exercícios preventivos para evitar a reincidência.
Prevenção
Em minha vivência com corredores, já ficou claro que prevenir é sempre mais eficaz do que remediar. A prevenção passa por fortalecimento muscular, controle da carga de treinamento, boa orientação de corrida e escolha adequada do calçado.
Recomendo fortemente uma avaliação biomecânica da pisada, pois padrões inadequados podem levar ao aumento do atrito no trato iliotibial.
O uso de calçados próprios para o tipo de pisada e evitar corridas em superfícies inclinadas ou muito rígidas são dicas simples que podem fazer toda a diferença.
Quando Operar?
Casos que não respondem ao tratamento conservador após cerca de três meses podem ser considerados para avaliação cirúrgica, porém, essa é uma necessidade rara em minha prática.
A cirurgia envolve a liberação parcial do trato iliotibial e geralmente tem bons resultados, mas reservo esta opção para situações bem específicas, após esgotadas todas as alternativas clínicas.
Conclusão
A síndrome do corredor é uma condição comum entre praticantes de corrida e pode afetar de maneira significativa a qualidade de vida e desempenho esportivo.
A boa notícia é que, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, a recuperação é altamente satisfatória.
Em minha experiência como ortopedista, reforço sempre a importância de não ignorar os sinais do corpo.
A dor lateral no joelho não deve ser considerada algo “normal” da corrida. Buscar orientação especializada pode evitar complicações futuras e garantir que o esporte continue sendo fonte de prazer, e não de dor.
Está sentindo dor na lateral do joelho ao correr? Pode ser síndrome do corredor. Não espere a dor piorar.
Agende uma consulta comigo, Dr. Ulbiramar Correia, e tenha um diagnóstico preciso com tratamento individualizado para voltar a correr com segurança.
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